Blue Flower

Digite o termo na pesquisa conforme o Sumário atual da terceira etapa. Aperte o enter e aguarde o melhor resultado. Após entrar no tema da publicação, busque a palavra do seu interesse usando as teclas Ctrl + f. surgirá uma barra superior onde se deve digitar a palavra chave, p. ex. "Dummar", logo aparecerá ressaltada, com o número de vezes que se acha no texto. 

 

    Famílias Cearenses & Francisco Augusto de Araújo Lima. 

 

 Continuação da Sétima Parte, Um Bairro Chamado Damas. 

 

Mary Ann no Campinho. Fotografia  tirada na época junina do ano de 1951, no terço inferior do Campinho, próximo ao Riacho da Itaoca. A 'pelada' acontecia no sentido nascente / poente.  Acima (norte), cerca do Sítio do Fonseca.  Fonte foto. JAAL.

 

 

 

 

      

Bila, cabiçulinha, bola de gude, apostando chulipa na orelha, e as preciosas bilas. Com três buracos, cavados no chão molhado pela água da chuva e aperfeiçoado com o calcanhar. Ou jogar de triângulo ou círculo, antes definir quem iniciaria a partida, jogando a bila em direção a uma linha traçada no chão. Quem mais se aproximava dela, levava a vantagem de começar.

 Carros, ônibus, caminhões, ‘fabricados’ com ‘tecnologia made in Parangaba’ pelos meninos. Madeira e lataria, feixe de mola feito com aro de barril. Puxados por cordões, com direito a mini - garagens edificadas com a imitação de colher de pedreiro, uma colher de sopa achatada.

 Patins, patinete, carrinhos de rolimã, a calçada do sobrado do Dr. Álvaro Fernandes, transformada em excelente pista, ‘rolimã dromodo’.

O jogo do triângulo, finca, fura, praticado somente quando chovia, para nós no inverno. O chão molhado é ideal, para receber o ferro tipo chave de fenda que era lançado com a mão  ao solo. A cada fincada do ferro no chão ia puxando uma linha saída do triângulo que traçaria o rumo que o jogador desejasse. Objetivo: dificultar a saída do oponente e a sua chegada ao tal triângulo. Se errasse, ou seja o ferro não enterrasse no solo, era a vez do outro menino jogar. Existia garoto engenhoso e malvado nessa brincadeira.

 

Perna de pau, prótese rústica para aumentar exageradamente o tamanho das pernas. Alguns eram habilidosos pernas de pau, outros, conheciam a brincadeira, mas não tinham coragem com medo da queda.

    

Soltar arraia, papagaio, pipa. O litoral piscoso do Ceará, rico em peixes como o Bathoidea, arraia, pela semelhança emprestou seu nome e batizou o brinquedo dos meninos cearenses.  Arte antiga e que veio de muito longe. Nos meses de vento mais forte, julho, agosto e principalmente setembro, se iniciava a temporada. Primeiro o preparo do esqueleto da arraia feito de talo, palito, da folha do coqueiro. A linha a ser usada era especial, a preferida a de nº zero. Papel de seda, com cores a gosto. O rabo da arraia tem função, charme, elegância nas evoluções, e podia levar gilete = lâmina de barbear, como arma para cortar o concorrente. A cola caseira = grude confeccionado de goma de mandioca, passada na peneira, tudo feito pela meninada, em casa, artesanal, bagunça, alegria antes, durante e depois da brincadeira. Por último o encerol, cerol, cujo ingrediente era uma lâmpada fluorescente moída, virava pó. Cuidado para peneirar e fazer um pirão com o pó-de-vidro e o grude = cola. Passava o pirão envenenado centímetro a centímetro de um trecho escolhido da linha zero, para ‘cortar’ a arraia do menino chato. A corrida louca para pegar a arraia ‘cortada’ que em queda livre não escolhia lugar para cair. Quem pegasse seria o novo dono era a lei. O cerol, encerol foi proibido - com razão - face aos sérios acidentes. Mandar telegrama via um pedaço pequeno de papel cortado em viés e aposto a linha que governava a arraia, sentir o telegrama subir, subir até não mais ser visto. Mensagem passada, felicidade, parece infantil, mas era uma sensação legal o imaginar se comunicar com as alturas. Lenda: ao recolher a arraia os garotos comentavam a probabilidade de ela está contaminada pela poluição do ar lá de cima, e da proximidade com os urubus... E tinha arraigados conceitos ‘científicos’ em todas estas explicações.

 Usada a arraia por povos antigos como arma de guerra, sinalizador, aviso. O herói negro Francisco Nzumbi, o Zumbi, {*1655 e + 20.11.1695}, chefe do Quilombo dos Palmares, Serra da Barriga, Alagoas, casado com Dandara, também utilizou - a pipa - para denunciar a chegada dos Bandeirantes, depois conhecidos como Terço dos Paulistas, que praticou o genocídio dos índios desde o Oeste potiguar até a Ribeira do Jaguaribe. Cf. Siará Grande, op. cit, Fortaleza, 2016. Cf. Wikipédia.

   

A baladeira, estilingue feita a partir da coleta da forquilha, gancho de goiabeira ou pitangueira, no quintal de casa, e a borracha de câmara de ar de preferência de bicicleta, o couro de sapato velho. A munição era recolhida do trilho do trem, RVC, altura do km 8, forrado de brita de ambos os lados para evitar poeira quando o comboio estava em movimento. Lá se retirava (raras vezes) um auxiliar de fixador de ferro que servia para unir mais os trilhos aos enormes dormentes, lembrando um pequeno martelo. Este falso pequenino martelo facilitava na confecção das pedrinhas = brita no tamanho adequado, até encher o pequeno saco de pano grosso usado a tiracolo, denominado de bissaco. A baladeira usada mais para acertar e derrubar frutos no alto das árvores. Confesso que FAAL era péssimo de pontaria nunca matou um passarinho, sem virtude era porque era ruim mesmo de pontaria. Lâmpada - em poste da rede elétrica quebrou, também eram fixas... Atitude condenável e poucas vezes exercidas. Sem noção, sem orientação, moleque suburbano irresponsavelmente feliz da vida. 

 

 Pedalar de bicicleta Phillips, Hércules, Monark, sendo os modelos femininos, sem o varão. Bicicletas importadas, a maioria da Inglaterra. Longos passeios da Av. João Pessoa até à Estrada do Gado, 14 de Julho (homenagem à Queda da Bastilha), atual Gomes de Matos. Nas idas com destino as lagoas para banhar, e outros. Detalhe importante, na Avenida da Morte: Av. João Pessoa, o ciclista (menino) atravessava a pé = descia da bicicleta, e a empurrava. Se necessário seguir rumo Norte = Fortaleza, ou Sul = Parangaba, o fazia pedalando usando o piso das calçadas, por medo dos veículos em alta velocidade. Devia ser uns 60 / 70 km/h.

 

Punho de rede: brincadeira típica de cearense moleque. Retirava o punho da rede do armador e punha no beiço do gancho. O pobre desavisado ao deitar na rede supondo que estava bem armada, levada uma tremenda queda. Quanto pior quanto mais tempo demorava a cair, pois então já se encontrava bem relaxado, desprevenido para amenizar a queda. Cama de gato outra coisa de mau gosto, um menino em pé alheio a tudo, vinha outro ficava de quatro atrás dele e um terceiro o empurrava o lesado, que cai todo sem jeito.Em outra versão Cama de Gato usa barbante e as duas mãos, consiste em brincadeira sadia.

 Gamão, damas e firo se jogava. Xadrez pouco. Baralho, o burro, trinta e um, paciência, buraco. Queda de BraçoCurral de boi de ossos de galinha ou outro tipo, brincadeira nossa, nordestina, os meninos imitando os vaqueiros, figura lendária.

 Jogo da Velha. Jogado por duas pessoas. Objetivo alcançar três X ou três círculos em linha.

Batalha Naval. Dois jogadores, passatempo fácil de preparar e jogar.

Par ou Ímpar. Cata - vento. Cabra cega.

Empurrar Aro com arame com ponta em forma de U. Empurrar pneu velho com pedaço de pau.

Corrupio se fazia com botão grande, onde passava o barbante e ao aproximar e afastar a mão direita da esquerda ia imprimindo velocidade ao botão. Outra versão com disco de flandre, e partia para brigar com outro corrupio.

Carrinho de Lata enchia de areia grossa ou pedrinhas uma lata de formato cilíndrico. Passava o barbante por buracos furados no centro do fundo e tampa, e saindo puxando.

 Jogo dos palitos, porrinha, (expressão brasileira), usando palitos quebrados que facilmente se escondia dentro da mão. Podendo ser jogado por várias pessoas. Cada pessoa com três palitos e escolhendo a quantidade a colocar na mão e acertar quantos irão aparecerem quando os jogadores abrirem as suas mãos.

   

Balsa de três a quatro caules de bananeira, unidos por varas curtas, finas resistentes de madeira de marmeleiro, que perfuravam e atavam os troncos um ao outro, com uma vida útil de dias. Material recolhido com permissão do feitor do Sr. Fonseca, Lagoa das Damas, no quintal dos Pinto Mesquita, Lagoa da Parangaba, e com a simpática anuência do Sr. Anastácio Frota de Holanda, (Bibiu), na Lagoa da Maraponga. No imaginário infanto-juvenil a precária balsa, representava os navios piratas que singravam as lagoas citadas, ‘imensas’, águas ‘nunca dantes navegadas’. E lembrar que havia marujo d’água doce que nem sabia nadar... Quanto juízo. Nadar se aprendia no sufoco. Um afobado empurrava o marinheiro de primeira viagem para fora do caule da bananeira e ele que se batesse para não afundar. O náufrago a ouvir os gritos dos instrutores ‘bate os pés’, bate os pés, movimenta as mãos, agita os braços baitola! (E socorrer só se a vítima afundasse de vez). Depois de beber água e acatar a raivosa orientação o infeliz retornava esperançoso e crente que aprendera a nadar. Bem, após este batismo, não se afogaria tão fácil e culminava por ‘aprender’ a nadar.

 Pinhão jogo antigo, 4000 anos A.C. Um corpo de madeira que gira sobre uma ponta de ferro acionado por um barbante cuidadosamente enrolado do bico para parte superior.

Ioiô inventado pelos filipinos, industrializado pelos Estados Unidos da América que no pós guerra - 1938/1945 - inundou o Brasil com bugigangas de plástico como forma pagamento do uso e abuso praticados por eles no território brasileiro no período citado.  

 

Telefone de lata. Consistia em furar uma lata e por um fio = cordinha, barbante de pouco mais ou menos dez metros e realizar o mesmo em outra lata. Aí o sonho de Graham Bell estava realizado. Telefone sem fio uma frase dita após dez repetições já tem uma conotação estranha...

   

  Os garotos brincavam separados das meninas, lamentável. Então poucas brincadeiras com a participação de ambos.

 

Pular amarelinha, Pular Macaca, o chão riscado com caco de tijolo branco cearense rico em diatomita que fazia a vez do giz, numerando casas de um a dez, definindo o céu e o inverno. Pular corda em várias versões.

Jogo do passa anel, sentados no chão, em roda, pergunta onde está o anel após passar as mãos postas entre as mãos dos jogadores / jogadoras. Detalhe, o anel nunca desaparecia, gente honesta.   O mui antigo jogo das cinco Pedras. Jogar as cinco pedras no chão e depois arremessar para o alto e apanhar uma, depois duas, e ganha ao arremessar e apanhar as cinco pedrinhas. As meninas eram muito habilidosas nesta brincadeira. Desculpa amarela dos meninos: ficavam desconcentrados com as meninas sentadas ao chão. Tempo de muito recato.

 Pega - pega estabelecido um ‘manja’ ponto de segurança, as crianças corriam evitando ser pegas pela escolhida. Com ou sem venda. Cabra cega, aquela brincadeira de vendar os olhos de uma criança e sair de perto ... pois ela estava munida de um pau para atingir um objetivo, um jarro de barro cheio de bom-bom, p. ex. Alternativa: uma variação de pega-pega, o jogador de olhos vendados corre atrás de pegar alguém para se livrar de ser cabra-cega.

Quatro Cantos. Jogo para ambientes pequenos, dias de chuva, sala da escola. Um quadrado e cinco crianças. Um canto a menos que será o alvo da disputa.

Esconde - esconde um participante (ou dupla) deve se esconder e não ser encontrado. Sem ou com maldade. Pense em uma brincadeira boa... Momento mágico onde o garoto se aproximava mais da menina e de forma secreta. Ali era o sim ou o não, o começo ou fim de algo, embora a cumplicidade existisse desde a escolha das duplas. Melhor do que esconde - esconde só a brincadeira de Médico.

Brincar de médico é uma expressão utilizada no mundo ocidental para referir-se a crianças que examinam o corpo e as genitais um do outro. Pode ocorrer em crianças de sexo diferentes bem como do mesmo sexo e trata-se uma fase natural de descoberta do corpo, desde que os envolvidos tenham idade próxima. Sem polêmica vamos acatar esta hipótese. Cf. Wikipédia.

Dança das Cadeiras. Colocava-se uma cadeira a menos que o número de participantes, de forma que sempre um ‘abestado / abestada’ iria dançar, sobrar.

Cantigas de roda, p. ex. Eu sou pobre, pobre, pobre, De marré, marré, marré. Eu sou rica, rica, rica,De marré, marré, marré. E segue. Cantada pela Senhora Zarifa Romcy boníssima pessoa, acompanhada de filhas, filhos, por todos... Brincar de Roda ciranda da Rosa Vermelha, Teresinha de Jesus, de Abobora faz Melão. Morava na Areia. Atirei o Pau no Gato (essa versão parece que o politicamente correto a modificou). S*******m . Escrava de Jó. Ciranda, cirandinha, Vamos todos cirandar, Vamos dar a meia volta, Volta e meia vamos dar, O anel que tu me destes, Era de vidro e se quebrou. O amor que tu me tinhas, Era pouco e  acabou.

 

                              Balaio de Recordações.

 

   No Bairro Damas, Parangaba, Fortaleza, no ano de 1947 existiam somente duas geladeiras.  A informação foi guardada fácil, pelo uso da penicilina milagroso remédio surgido no pós Segunda Guerra Mundial. Tornou-se do conhecimento geral que havia duas opções para guardar a penicilina, o que acontecia com gentileza, solidariedade, enfim objetivava salvar uma vida. O princípio ativo vinha em um pequeno frasco em forma de pó. Anexo uma ampola com soro para adicionar e aplicar via injeção no músculo. Depois de diluir o pó com o soro, havia a obrigatoriedade de o conteúdo ser conservado a baixa temperatura. Geladeira era coisa de rico e adulto. Menino não “mexia” ou “bolia” = bulia em geladeira. 

   Uso de Charrete como veículo de transporte pelo Sr. Vicente Nepomuceno, e outros. Ao norte e ao sul do campo do Fluminense, Rua Álvaro Fernandes nascente da Av. João Pessoa, havia um arruado, e em uma das casas morou Valdemar Matos e Silva, Enfermeiro do DNOCS, que se deslocava a cavalo até a Chácara Vila São José, na Av. João Pessoa, 5521, onde deixava a sua montaria e seguia nas CAMIONETES da Parangaba para o trabalho, Rua Pedro Pereira nº 684.

   Água da Pirocaia dos herdeiros do Manoel Sátiro. Os Santos Sátiros, donos da cacimba do Damasco, que nas secas 1951-1958, serviu a todo o Bairro das Damas, e da água da Pirocaia / Itaoca, concorrente da fonte do Vilar, na Rua São Paulo, da família Carvalho, no Bairro Floresta, do Zuca Acioli, na Rua Marechal Deodoro, Cachorra Magra, Prado, Benfica. A Cia. de Água e Esgoto, CAGECE, é menina, de ontem, 1970.

   Comum eram as tertúlias dançantes em casas de família. Matinal e vesperal somente em clubes. As tertúlias tinham hora para começar e terminar (entre 19h e 22 h no máximo). O término era anunciado quando o dono da casa colocava para tocar na vitrola um disco de VALSA, e chamava uma de suas filhas para dançar. A moçada começava a sair, a mensagem era captada de imediato. Mas até chegar a hora da valsa a diversão era grande. Nos aniversários também acontecia ‘festa dançante’, com animação. Dançar era importante por permitir a aproximação do menino da menina e começar uma conversa, um entendimento. Outrora a moça só dançava com parentes ou marmanjo conhecido. Desconhecido não iria se atrever a falar “a senhorita me dar à honra dessa dança”. Nos anos 50 essa liberdade da moça dançar com desconhecido era comparada pouco mais ou menos ao FICA moderno. Coisas que o tempo levou ... como bem lembrava o famoso programa da PRE 9, (Raimundo Menezes e José Limaverde).

   Carros existentes nas Damas: Anglia, Dr. Antônio Álvaro Fernandes e Sr. Eduardo Brígido Monteiro. Humber, Dr. Antônio Augusto de Araújo Lima, camionete Dodge ou Chevrolet do Sr. Walter dos Santos Sátiro. Motocicleta Harley - Davidson, 1.200 cilindradas, do Dr. Mahir dos Santos Sátiro. Carro Chevrolet, do Sr. Joaquim Braga Rocha. Jeep Willys Overland do General José Góes de Campos Barros. Camionete do José Amora Sá. Chevrolet 1952 do Sr. José Carlos Figueira Saboia. Jovens com idade inferior a dezoito anos dirigiam veículos em áreas restritas do Bairro Damas. Sem problemas.

 O natal era comemorado em família. Não havia ‘amigo secreto’. Presente somente de Papai Noel para as crianças. A Missa - do Galo assistida na bela Capela da Porciúncula, Av. João Pessoa, quase em frente a Usina Everest, com a presença da maior parte das famílias das Damas. Depois a ceia natalina e dormir, esperar papai Noel e seus presentes.

   A importância dos cinemas, o desfiles das meninas, e justiça os meninos também se vestiam bem mauricinhos.

    O carnaval com corso na Rua Senador Pompeu. Depois na Av. Duque de Caxias, onde os carros se locomoviam lentamente sentido poente - nascente, entravam a esquerda na Av. Dom Manoel, iam até o Seminário da Prainha, onde faziam o retorno, para começar tudo de novo. Apesar de movidos a álcool e de nas constantes paradas haver conversa entre os participantes não acontecia brigas. A noite, festas nos Clubes. A segunda feira de carnaval era mais animado, no Country Club, na Av. Barão de Studart, e as vezes acontecia briga, e briga de gente grande. Outros Clubes, Náutico, Maguari, Massapeense, Comercial, Quixadaense também realizavam animadas festas carnavalescas. O uso do cloretil liberado sem a menor restrição. Demorou a cair a ficha que seu uso era nocivo. A criançada com direito a matinais e os adolescentes a vesperais, promovidos por alguns clubes.

   Recordar que a Semana Santa era dia santo de segunda a sexta feira, sem aula nos colégios, comércio quando muito a meia-boca. As Rádios Difusoras, PRE-9 - Ceará Rádio Club, à Rádio Iracema, tocavam música clássica. Os bares com portas fechadas, aberto uma pequena entrada e só vendia de bebida alcoólica o vinho. E meu Pai reclamava ainda relembrando que no tempo dele o respeito era maior : não se tomava nem banho na Semana Santa. E havia o adágio, ‘mais deserto que cabaré na 6ª feira santa’. Sábado de aleluia, comemorado com alegria e mantendo a tradição, desfilar com os bonecos representando Judas Iscariotes, com a leitura do testamento, malhação e queima. No ano de 2013, constatei esta tradição mantida e com muita animação na cidade de Jaguaruana, Ceará.

   Páscoa totalmente diferente da atual sem ovos, sem se desejar boas páscoas.

        Alma gêmea.

   A adolescência e os bailes de quinze anos das meninas, as damas de honra, os cavalheiros, a dança da valsa, a aniversariante e seu pai, os quinze casais. Os ensaios preparatórios tudo era razão para alegria, flert, aproximação, amizade. A festa era realizada em casa dos pais da debutante. Aí começa a tragédia. Não havia controle de quem podia ou não entrar. Os malandros, adeptos da Lei da Vantagem, passaram a frequentar os aniversários quer fossem ou não convidados, e não contentes da boca livre agiam como vândalos pondo toalhas de rosto no vaso sanitário, entupindo-os, bebendo acima da sua capacidade criando caso e casos. Necessário a figura do ’segurança’, o controle, apresentação de convite. Enfim os bufet, clubes e adeus as festas em residências. Aquele toque familiar intimista e peculiar de cada aniversário perdeu-se e aconteceu a padronização dos eventos, com inovações nem sempre corretas.

   Vestuário feminino: A roupa era projetada para esconder o corpo da mulher. Uma aluna do Liceu do Ceará, 1960, fardada, você nunca iria saber a real, porque a saia ia até a  canela, com uso da combinação mais califon e /ou corpete, tudo em tecido pesado, sem transparência. Não dava para uma colega saber quase nada do corpo da outra colega, imagina um homem. Interessante comentar que na década de 1951/1960, o costume de ir a praia usar maiô, era muito restrito a pequenos grupos e períodos do ano e em praias remotas... Não era permitido andar de calção ou maiô em ônibus. Se você fosse á praia teria de levar em uma bolsa sua roupa de banho, pegar um transporte coletivo, descer na Praça José de Alencar. De lá andar até a Praça da Sé, Catedral, e pegar um ônibus para a Praia do Meireles. Tinha de ter uma casa de parente ou amigo ou ser sócio/sócia de um clube, o Náutico, por exemplo, que oferecia um vestuário masculino e um feminino organizado. O Sr. Moreno era o responsável pelo vestuário masculino. O Parangaba, trocava de roupa deixava tudo arrumado segundo as normas do Sr. Moreno e saia com seu calção nas canelas, - é exagero - mas perto do joelho é vero. Depois do banho de mar, o circuito de volta. Tomar banho de água doce, se trocar seguindo as regras do Sr. Moreno, guardar na bolsa e esperar o ônibus do Meireles para retornar a Praça da Sé. Andar até a Praça José de Alencar, pegar uma camionete da Parangaba. Carros, automóveis eram poucos, 906 era o nº das placas de um Humber, inglês, do meu pai, e não era para uso de moleque = garoto, este usava transporte coletivo, e estava certo. Fica explicado o porquê do corpo feminino ser tão misterioso para a moçada. Praia era complicado e não havia o modismo que depois veio. Concluindo: o maiô tinha tipo um saiote, para proteção da genitália feminina, mesmo coberto não podia ser espiado frontalmente ali o triângulo das bermudas. No Nordeste brasileiro a primeira garota usando biquíni que eu vi foi na Praia da Ponta Negra, Natal, ano de 1966. Duas peças sim usavam em Fortaleza, biquíni não.

  Quantas piscinas havia na cidade de Fortaleza na década de 1951/1960?  A da Escola de Aprendizes de Marinheiros, Jacarecanga, a do Ideal, uma em residência no Benfica, estilosa, no 1º andar, e nos Sítios da Serra de Maranguape, Trampolim e seus perigos, mortes e sequelas graves.

Vestido a saia ia até a metade das canelas. As pré - adolescentes e adolescentes pareciam umas extras terrestres. Usavam meia soquete. Por baixo da saia, anágua, depois a abolição da anágua, combinação, e calça. Não era calcinha era calça, calçola, grandona, confortável, dizem. Observar que as francesas vanguardistas na moda não usavam NADA por baixo das saias. A partir e 1800 é que passaram a usar calção até os joelhos com a broxante cor da carne. Na Inglaterra 1831/1901, apesar do tabu, quem tinha grana comprava por preço alto calçolas. As moças iam a A Cearense, na Rua Barão do Rio Branco, onde havia um especialista para aconselhar qual tecido era melhor para a Senhorita ou Senhora. Escolhido o ‘pano’ era orientada qual modelito lhe caía melhor. Com a compra feita era comum levar a costureira para casa, onde ela passava uma semana confeccionando as vestimentas femininas, calças = calçolas, {sem essa de calcinha} também e até os paninhos = absorventes da época. Califon era como era denominado, o porta-seios, aqui no Ceará era o sutiã. O Califon prejudicava as meninas, porque achatava os seios, dava uma impressão dos seios serem mal formados, tudo para não mostrar farol-acesso. Dois pesos e duas medidas. Mostrar o colo, assim, insinuar podia. Ver os decotes antigos, mas esta amostra não incluía o mamilo, este havia de permanecer escondido. Como provar se os seios estavam caídos? Simples, colocava um cigarro abaixo do seio, se o cigarro caísse nota 10, os seios estavam em forma. Se o cigarro ficasse preso, sinal vermelho o seio havia descido... Eu não era surdo, nem cego e tinha irmã, {meiga e querida, mais velha do que eu} e ela tinha amigas... Então...s festas juninas 

 

       Festas Juninas.  Bumba Meu Boi

  

 

 Francisco Augusto de Araújo Lima. Sítio Bom Sucesso, Guaramiranga, Serra de Baturité. 17 de maio de 2019. genealogia@familiascearenses.com.br faal.ww@gmail.com